sábado, 29 de março de 2008

Os últimos refúgios

Com a crescente divulgação do spinning de mar no nosso país, esta técnica está na moda e são raras as pessoas que não ouviram falar nela.
Trata-se de uma pesca muito técnica, destinada à captura de exemplares de grande porte.
Estes exemplares (como refere um grande amigo meu), são na sua maioria reprodutores que pouco eram tocados pela pesca à rede.
Nos próximos anos, com a referida divulgação da modalidade, assistiremos a uma pressão de pesca imensa centrada nestes grandes exemplares, que conduzirá inevitavelmente a uma diminuição significativa destas populações.
De futuro terão que ser adoptadas medidas de conservação, que poderão passar pelo estabelecimento de limites diários e de medidas mínimas/máximas de captura.

Enquanto isso não acontece, os nossos portos constituem os últimos santuários/refúgios destes predadores de grande porte. Nestes ambientes em que a pesca é proibida, os grandes robalos sobrevivem e crescem sabendo que não possuem muitos inimigos naturais (com excepção das lontras marinhas presentes em alguns portos).
Apresento de seguida algumas fotos de grandes robalos, misturados com muges.

Robalo no centro do cardume de tainhas:


Foto anterior ampliada:


Outro cabeçudo no meio de tainhas:


Foto anterior apliada:



S. Ferreira


terça-feira, 25 de março de 2008

Anchova (Pomatomus saltatrix)

Introdução

(Foto de Hernández-González, C.L.)

A anchova (Pomatomus saltatrix) vulgarmente conhecida como bluefish, é um peixe popular no seio dos praticantes de pesca desportiva de todo o mundo. Tem tudo o que os praticantes deste desporto procuram: é muito agressiva e proporciona uma luta sem piedade caracterizada por saltos e pela brutalidade das suas investidas.

Esta espécie tem sido submetida a uma pesca excessiva e a sua população está em franco declínio na costa Portuguesa, contrariamente ao que se passa no outro lado do Atlântico, nomeadamente na costa dos EUA. Aqui, a sua reputação de gamefish faz com que estes peixes sejam protegidos, sendo a sua pesca controlada. Encontra-se presente nalguns pontos da nossa costa durante os meses mais quentes.

Devido à sua voracidade, é um peixe que pode ser pescado através de muitas técnicas de pesca, quer se utilizem iscos naturais ou artificiais. É no entanto a pesca com artificiais a mais aliciante e emotiva de todas, nomeadamente através da prática do spinning – lançamento de amostras directamente ligadas à linha do carreto. Quanto a estas, existe uma infinidade de modelos que podem ser utilizadas na pesca deste peixe. Referir-se-ão algumas das principais famílias, e material a utilizar, de uma forma bastante simplificada e breve.

Equipamento:

Cana - Deverá ser leve, potente e construída em carbono. O seu comprimento poderá variar entre 2,50m a 3,30m e a sua acção deverá ser rápida. O pesqueiro determinará as dimensões da cana.

Carreto - Não deverá ser grande ou pesado. Deverá sim, ter uma boa recuperação e uma excelente embraiagem. Os modelos Twin Power e Stradic da Shimano são bons exemplos.

Linha - As linhas vulgarmente empregues no carreto são em multifilamento. Permitem conseguir obter bons lançamentos através de utilização de diâmetros mais reduzidos e aguentar a luta destes fortes peixes. Uma linha de 30 lb é óptima. De entre algumas marcas, destacam-se a Power Pro, a Tuf Line e a Fire line.

Baixos de linha - Utiliza-se sempre um pequeno baixo de linha – 60 a 100 cm (0,48 a 0,55 mm) para diminuir a rigidez do conjunto, para permitir aguentar o roce da linha e para conferir menor visibilidade. Pode-se utilizar nylon ou fluorocarbono (este último aguenta melhor a fricção e desgaste). A união pode ser feita mediante a utilização de um nó albright. Existem no entanto muito mais opções que poderão ser encontradas na net e posteriormente equacionadas. A utilização de baixos em aço é um erro muito comum e apresenta muitas desvantagens. Fazem com que as amostras trabalhem mal, são muito visíveis e poderão diminuir significativamente a quantidade de picadas ao longo da sessão de pesca. A sua utilização só se justifica em amostras muito pequenas.

Anzóis e argolas - Os anzóis a utilizar deverão ser robustos e muito afiados. A força e os dentes das anchovas não perdoam. O mesmo se pode dizer das argolas que caso não sejam de boa qualidade, serão completamente abertas e destroçadas. Caso as amostras não tragam os elementos referidos com estas características, deverão ser imediatamente substituídos para evitar dissabores.

Amostras

Skipping lures

São consideradas por muitos, como as amostras nº1 para as anchovas. São extremamente resistentes, lançam como nenhuma outra, proporcionam ataques brutais e atraem grandes exemplares.

Costumam ser sempre as primeiras amostras a entrar em acção, devido aos resultados espectaculares obtidos. A cana deve ocupar uma posição intermédia e devem-se utilizar carretos de recuperação rápida para permitir que a amostra dê os seus saltos característicos e salpique muita água. De cima para baixo: bounders e rangers da Roberts Lures.


Poppers

Criadas originalmente para a pesca do achigã, foram mais tarde aplicadas à pesca dos vários predadores marinhos. De um modo geral, a cana deverá ser colocada o mais baixo possível. A recuperação costuma ser feita a grande velocidade, dando origem à formação contínua de bolhas de ar que excitam os peixes, levando-os a atacar. De cima para baixo: pop queen - Maria, chug bug – Storm, hidro Tiger - Yo-Zuri e Knuckle head - Creek Chub.



Pencil poppers

Parecidos com os poppers, mas possuem um perfil mais alongado. São também muito utilizados e pode-se executar uma recuperação rápida em zig-zag. De cima para baixo: pencil popper - Heddon e surface cruiser - Yo-Zuri.



Stickbaits ou passeantes

Criadas por volta de 1900 para pescar achigãs, conhecem actualmente uma grande divulgação na pesca de todos os predadores de água salgada e criaram-se uma infinidade de modelos.

A cana deve ser colocada o mais baixa possível e dão-se toques de ponteira alternados ao mesmo tempo que se recupera com o carreto (movimento wtd). De domínio difícil para os iniciados, exigem algum treino. Da esquerda para a direita: blues code – Maria (afundantes), z-claw, Miss carna – Maria e x-rap walker.



Hélices

Menos utilizadas que as restantes, são no entanto empregues em França na pesca dos robalos com excelentes resultados. O movimento, como as restantes deverá ser feito continuamente e com velocidade, para que desloque muita água e faça muito barulho. Foto: baraka - sert.


Jerkbaits

O jerkbait original foi criado pelo fundador da empresa “rapala”. Possuem um corpo alongado e uma pala frontal, que uma vez iniciada a recuperação faz com que a amostra afunde e vibre imitando a natação de um peixe. Para trabalhar estas amostras, a cana também deve ser mantida o mais baixo possível para que atinjam a profundidade que caracteriza o modelo empregue. As técnicas de animação são variadíssimas, mas devem-se caracterizar sempre por velocidade de execução. Da esquerda para a direita: 4 cores de bomber long A, rapala de pala metálica, x-rap – rapala, Tobi maru – Yo-zuri e x-rap (modelo intermédio) - rapala. As marcas referidas não lançam muito mas em contrapartida são mais resistentes.

Jigs

São vulgarmente utilizados jigs metálicos (zagaias/colheres) ou ainda jigs em chumbo adornados de bucktail/ flashbow. A forma de recuperação é variável, devendo ser executada uma velocidade similar às anteriormente descritas. São utilizados para procurar as anchovas a várias alturas de água. De cima para baixo: bucktail jig - xps e duas colheres metálicas.



Alguns conselhos

Pescar apenas os peixes que vai consumir e não praticar uma pesca destrutiva. Só através de uma pesca racional poderemos continuar a ter estes peixes por muito tempo nas nossas águas. O pescador desportivo não faz tantos estragos como o pescador profissional, mas também contribui para a escassez de peixe. As anchovas possuem na sua constituição uma grande quantidade de gorduras insaturadas e a oxidação destas e consequente degradação da carne do peixe, são inevitáveis! O processo de congelação altera bastante o sabor deste peixe; devem pois ser consumidas o mais depressa possível.

Caso se pretenda levar alguns exemplares para casa, outro aspecto muito importante a ter em conta durante a sessão de pesca, é mantê-las obrigatoriamente afastadas do vento e calor, para não secarem rapidamente.

Deve ser sempre utilizado um alicate de pontas para remover os anzóis e tomado especial cuidado com os dentes destes peixes, pois mordem a sério! As dentadas são perigosas e desagradáveis, podendo (se o exemplar for médio) arruinar a sessão de pesca, obrigando a uma ida ao hospital para suturar os dedos/mão.

O adversário deve ser sempre respeitado após a captura (caso não se pretenda proceder à sua devolução); deve ser imediatamente morto, inserindo para tal uma faca no cérebro – incisão efectuada na zona inferior. Poupar-se-á desta forma sofrimento desnecessário ao peixe e simultaneamente diminuir-se-á substancialmente a formação de ácido láctico no tecido do animal, evitando desta forma uma perda de qualidade da carne.


S. Ferreira