sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Catch and Release - porquê libertar os peixes grandes?

Muito se fala e se tem falado, no mundo da pesca ao achigã, sobre a importância de que se reveste a libertação dos peixes pescados.
Apesar de não ser um indivíduo fundamentalista, com o passar do tempo, e com o acumular de conhecimentos, cheguei à conclusão que os exemplares grandes devem ser objeto de proteção especial.
Os motivos são os seguintes:

1- São os exemplares com maior potencial genético; os seus genes devem ser transmitidos às gerações seguintes, de modo a incrementar ainda mais o tamanho da espécie nas nossas águas;
2- São os exemplares que à partida produzem mais alevins, consequentemente produzindo mais descendência - são as galinhas dos ovos de ouro de uma massa de água;
3- O número de pescadores desportivos nas nossas águas interiores, aumenta todos os dias; sabendo que a maioria mata peixe, estaremos a delapidar as nossas águas, comprometendo o futuro da espécie e também o futuro da pesca desta espécie emblemática;
4- Os peixes mais combativos são os exemplares de grande porte; um achigã morto satisfaz momentaneamente a gula de uma pessoa, mas impede que muitos pescadores disfrutem do prazer de pescar um exemplar destes;
5- As nossas entidades estatais não protegem a espécie; fazem exatamente o contrário; as águas interiores são geridas apenas com interesses monetários, ficando sempre em último lugar as espécies nelas inseridas; manutenção de níveis de águas estáveis durante o período reprodutivo são uma utopia; não são feitos repovoamentos;
6- A ideia de não devolver o peixe pescado porque ao fazermos isso, alguém o irá pescar de seguida, é também um procedimento absurdo; se não o fizermos morrerá de certeza; se o soltarmos continuará a exercer o seu importante papel na massa de água em que está inserido.

Largemouth

Smallmouth

Há no entanto que ter em conta a forma como se manipula o peixe após a sua captura. Deve ser manuseado com as mãos molhadas para evitar danificar o seu muco protetor, deve ser agarrado na horizontal para não danificar os seus órgãos internos (apoiando para tal uma das mãos na barriga) e após a foto deve ser gentilmente devolvido, oxigenando-o no processo.
Sou contra a manutenção de peixes em viveiros durante horas, nas provas de pesca ou ainda em stringers. O stress traumático da confinação é uma aberração, assim como os danos provenientes de choques do peixe com os seus congéneres ou com objetos.

Oxigenação, e foto durante a libertação


JP a dar o exemplo e a garantir a continuidade


S. Ferreira

4 comentários:

Fernando Encarnação disse...

É um assunto bastante polémico consoante as opiniões de cada um, é polémico e continuará a ser, até que todos percebam de uma vez por todas que é importante dar continuidade as espécies, coisa que sem planeamento eficaz e seguro, será uma utopia, e a continuidade das espécies estarão comprometidas.

A estes pontos que referistes podemos chamar de lei de base da sustentabilidade das espécies.

Existem seguramente espécies que se têm notado a sua diminuição em grande escala, que poderemos culpar o peso da poluição, alterações climatéricas, impacto do homem (pesca).

Também deveríamos olhar para a pesca como um negócio de sustentabilidade das regiões interiores ou não que tenham no seu território grandes massas de água e que através do turismo e da sustentabilidade consciente da defesa das espécies promovam essas mesmas regiões. Temos um bom exemplo aqui ao lado em Espanha ou nos EUA no que diz respeito a águas interiores.

Bom assunto que daria bastante conversa…

Abraço.

S. Ferreira disse...

Pois olha, eu não sou um gajo fundamentalista.
No passado matei muito reprodutor, mas com o passar do tempo apercebi-me dos erros que cometi.
Hoje em dia, está completamente fora de parte levar um achigã grande para casa, para comer.
Temos espécies mais interessantes do ponto de vista gastronómico (sargos, robalos, bailas, anchovas,etc.).
Em cada época de pesca acabo por sacrificar 2-3 peixes pequenos para comer grelhados (com manteiga por cima). Sei que ao fazê-lo não estou a pôr em causa o futuro dos locais onde pesco.
Depois de começar a devolver estes peixes grandes e a ficar com o registo fotográfico dos mesmos, o procedimento banaliza-se com muita naturalidade e acabamos por encarar o acto como uma "vénia" ao nosso valoroso oponente.
O mar é muito grande, mas para alguns de nós que há muito pescam, o efeito da pressão de pesca faz-se sentir cada vez mais e num futuro próximo, terá que surgir uma nova postura.
Um abraço,

Fernando Encarnação disse...

Eu também não sou um gajo fundamentalista, custa-me por vezes é ver dois pesos e duas medidas, não em algo de especial mas em tudo, mas cada um é livre de ter a sua opinião e postura.

Também já matei muito peixe, bastante até, quando era mais novo pescava pequenos robaletes aqui no Mira, eram ás centenas, curiosamente agora são menos, mas bastante maiores. Valeu e fico bastante orgulhoso pela minha mentalidade ter mudado em torno do que era e da maneira como via a pesca da mentalidade que tenho actualmente.

Não sou pescador em águas interiores, apenas de água salgada, mas mesmo ali é como dizes, não vou dizes que a pressão da pesca é o principal responsável, mas também contribuí, e nota-se claramente nalgumas espécies, por exemplo a anchova desapareceu por completo destas paragens, quando o seu principal alimento aumentou a olhos vistos, a cadeia foi quebrada...

A mentalidade sobre as espécies de águas interiores terão necessariamente de ser adoptadas a médio prazo para algumas espécies de água salgada, mas existem tantas diferenças ao compararmos uma coisa com a outra.

Gostava de te dar os parabéns pela tua postura.

;)

Um abraço

S. Ferreira disse...

A pesca em águas interiores é um pouco diferente porque são ecossistemas muito pequenos e consequentemente muito vulneráveis. Aqui os erros pagam-se caros.
Quanto ao mar, quando comecei a pescar em miúdo, não tive a sorte de ter um mestre que me elucidasse para a postura a adoptar.
Com os anos, fui-me apercebendo da importância da conservação e a devolver sempre os peixes jovens.
Na minha zona, possuímos talvez o ecossistema lagunar mais rico da Europa. Também nós temos robalotes dos que mencionas e eu delapidei, acredita, milhares deles, quando era mais jovem.
Muitos de nós a partir de uma determinada altura da nossa vida de "pescadores" mudamos de atitude, mas infelizmente as coisas teimam em permanecer iguais. Todos testemunhamos ainda, muitos pescadores "desportivos" experientes, com atitudes reprováveis.
Cá estamos para ver o futuro e a fazer figas para que o panorama melhore.
Obrigado pelo teu comentário.
Um abraço,